sábado, 30 de janeiro de 2010

Obrigado pela boleia, Ricardo Cabral.




Dá vontade de pôr aqui as páginas todas. O melhor é ver o livro.
Israel - Sketchbook, Edições Asa, 19,20€

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O email feliz da Ana Cardoso Pires: "Magnífica sessão de leitura"

Tudo se concertou para fazer do fim de tarde no Jardim de Inverno do São Luís uma sessão memorável. O espaço é lindo! A sala a cheia; os actores, do melhor; a selecção de textos, perfeita; a introdução de Luís Francisco Rebelo, oportuna e até comovida; o ambiente, caloroso. A leitura assim feita, tem ritmo, não cansa, empolga! Cada vez gosto mais. Há dois anos, tinha sido surpreendida por uma leitura de excertos de "Alexandra Alpha" por Isabel Wolmar, na Casa da Comarca da Sertã; ontem foi o "Render dos Heróis" por seis magníficos: Rui Mendes, Ruy de Carvalho, Carmen Dolores, Ângela Ribeiro, Luís Alberto e Armando Caldas. Desde que morreu o Mário Viegas, perdi o gosto por este tipo de intervenções; mas está a renascer uma verdadeira fã.

No final, os actores misturaram-se com a assistência, cheias de amabilidade e paciência para as solicitações e comentários mais diversos. Ruy de Carvalho - que fez uma leitura absolutamente notável - estava muito penalizado por não ter encontrado a música do Falso Cego, que lhe permitiria recuperar esse aspecto marcante da representação de 1965. O profissionalismo deste elenco continua a ser uma marca de distinção, a que ninguém consegue ficar alheio.
O director do São Luís esteve na plateia e a Leya foi representada por Pedro Sobral, que orientou o evento.
Provou-se ali, preto no branco, que, sem muita complicação, é possível "ressuscitar" velhos textos.


O Zé teria ficado muito orgulhoso pela maneira como o seu texto foi tratado, ontem!
A Ivone Ralha tirou a foto (em que só não se vê Armando Caldas, escondido por trás da actriz Ângela Correia).

E eis o texto – “subversivo” ou “imoral”? – que a Censura impediu de sair na revista “Eva” de 1-3-65 (datado de 17 de Fevereiro):

Um autor português: José Cardoso Pires. Um encenador português: Fernando Gusmão. Uma companhia portuguesa: o Teatro Moderno de Lisboa. Tudo prata da casa, tudo nosso. Num país em que a crise teatral se arrasta há tantos anos pelas razões conhecidas (mas nem sempre reconhecidas); onde não há escolas dramáticas a sério, que “fabriquem” autores, encenadores, etc.; onde os autores escrevem as suas peças para a gaveta ou quando muito para as tipografias; onde a experiência dos palcos é escassa, apesar da boa vontade dos teatros experimentais; onde a sombra tutelar de Gil Vicente vagueia cada vez mais pelas ruas da amargura – aqui, hoje, entre nós, este “Render dos Heróis” é um autêntico “milagre”. Não nos recordamos de ver nada criado por mãos exclusivamente nacionais que o supere como espectáculo. Um espectáculo de dinamismo muito próprio, entrecortado, acumulativo, de admirável beleza plástica, em que o ácido sabor tradicional dos autos recebe com extrema naturalidade as mais variadas sugestões e conquistas do teatro moderno. Só um encenador de larga cultura, de gosto seguro, imaginativo e consciente, conseguiria montar esta peça complexa com a aparente simplicidade alcançada. É certo que Fernando Gusmão tinha a seu favor alguns trunfos consideráveis: a linguagem forte e enxuta de Cardoso Pires, dum invulgar acabamento; actores de nomeada mas com bastante senso profissional para se dedicarem de alma e coração a pequenos papéis; um visível entusiasmo de todos pelo que estavam a fazer, etc. Seja como for, este é possivelmente o momento mais alto da sua carreira de homem de teatro.
Bom nível de representação, com meia dúzia de figuras excepcionais; mas sob este aspecto o mais importante é o rendimento do conjunto, um conjunto com perto de trinta personagens que atinge uma evidente harmonia.
Quanto a Cardoso Pires, só há uma coisa a pedir-lhe: mais teatro. O grande novelista que é não perderá nada com isso e, em contrapartida, todos nós ganharemos.

Não sei se o texto era para sair assinado, e com isso “agravar” o seu caso perante a Censura. Mas o autor era Carlos de Oliveira – que com muito orgulho associei a esta sessão e que permitiu prestar tributo ao trabalho de Fernando Gusmão. Contavam os actores, no convívio do final da sessão de ontem, que a publicidade à peça – subsidiada pela Fundação Gulbenkian – era feita por uns folhetos metidos nas caixas de correio, porque foi proibida a publicidade em jornais e, sobretudo, a associação do nome da peça ao autor do texto. E que a peça teve uma incrível adesão do público, mas foi proibida de continuar a sua carreira e de ser representada fora de Lisboa. Eis algumas coisinhas a acrescentar à lista daquilo que formatou uma parte da vida neste país…

Bêjos, no rescaldo de um dia feliz

Ana

sábado, 23 de janeiro de 2010

Hoje no Teatro S. Luís.

23 de Janeiro
50.º aniversário da publicação de O Render dos Heróis, com leituras de Carmen Dolores e Ruy de Carvalho, actores que estrearam esta peça em 1965.

30 de Janeiro
30.º aniversário da publicação de Corpo Delito na Sala dos Espelhos, com leituras de Lia Gama, Mário Jacques, Rui Mendes e António Montez.

A Ana (Cardoso Pires), que mora aqui perto e é amiga da Fonte, enviou um email com o seu habitual sentido de humor, a dizer que "a família lá estará em peso (e não é dizer pouco)". É uma razão de peso para quem gosta de Cardoso Pires lá estar também.

Ainda em viagem.





A exposição 044 - Retratos de Uma Viagem de Comboio, de José Mário Macedo, continua na Fonte de Letras. O jovem arquitecto que tem sempre a pequena Lomo na mão e muitas viagens na cabeça consegue colar-nos os olhos às janelas.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Top Fonte de Letras 2009

1- As Preocupações do Billy, de Anthony Browne, Kalandraka
2- Fúria Divina, de José Rodrigues dos Santos, Gradiva
3- Símbolo Perdido, de Dan Brown, Bertrand
4- No Teu Deserto, de Miguel Sousa Tavares, Oficina do Livro
5- Ervas, Usos e Saberes, de José Salgueiro, Colibri
6- Lua Nova, de Stephenie Meyer, Gailivro
7- Caim, de José Saramago, Caminho
9- Leite Derramado, de Chico Buarque, Publicações Dom Quixote
10- A Rainha no Palácio das Correntes de Ar (Millennium 3), de Stieg Larsson, Oceanos

É o Top de uma livraria generalista numa pequena cidade interior: cá está a literatura infantil, também os tops nacionais do momento, o livro do autor local, a literatura para adolescentes, os títulos para leitores mais exigentes e o "policial-que-não é só isso". Tudo o resto também se vende mas não chega para chegar ao Top.
E bom ter uma livraria numa pequena cidade de interior.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Dias de chá e torradas.

"O chá é escolhido, escaldado, posto a secar, grelhado em fornos, enroladas as folhas ou reduzido a pó, depois empacotado, guardado em latas, em caixas, em boiões; um melindroso amanho que requer mãos incansáveis, dedos prestimosos, cuidados inauditos, segredos de processo, meticulosidades devotas que espantam os profanos…" De O culto do Chá de W. de Moraes (editora Frenesi).
Na Fonte de Letras, às pequenas "mesas do café", têm-se sucedido clientes ávidos de um chá quente: preto com rosas, preto com frutos tropicais, Lapsang Souchong (o chá fumado), um maravilhoso Earl Grey, Darjeeling, chá branco, verde, chá de jasmim, vermelho com especiarias, … E saem para o frio lá de fora muito mais reconfortados.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

O Filósofo da Coca-Cola ontem levou "Colapso".

Assim é carinhosamente tratado na Fonte de Letras, desde há vários anos, o cliente cujas compras de livros variam entre Nietzsche, Maquiavel, Séneca, Homero, Desmond Morris, Shakespeare, ... É ele quem faz as entregas das bebidas para a cafetaria da Livraria - águas, refrigerantes e outros - daí o "pequeno nome" que ganhou. Quando vem em serviço dá apenas uma espreitadela de fugida aos livros mas ao fim do dia, quando sai do trabalho, volta para ver com calma e encomendar o que não encontra. Sabendo à partida que a mãe se vai zangar com tantos quilos de papel que leva para casa...
Às vezes também vem só para se sentar um bocadinho a ler o jornal que a Fonte de Letras disponibiliza diariamente aos seus clientes.
Ontem levou Colapso - ascenção e queda das sociedades Humanas, de Jared Diamond, ed. Gradiva. Para começar o ano.