quarta-feira, 21 de março de 2012

No Dia Mundial da Poesia.

Uma das melhores coisas de ser livreiro é estar a meio do trabalho de marca-preço-arruma-livro e não resistir a abrir um livro e aí ficar perdido. Assim aconteceu no outro dia com o poeta e excelentíssimo homem da cultura, Alberto Lacerda, pessoa fascinante que nasceu na Ilha de Moçambique (1928) e viveu entre Boston e Londres (onde morreu em 2007).

Hoje é dia Mundial da Poesia e o livro que se colou às mãos foi "Morte de uma estação", Antonia Pozzi (1914-1938), da editora Averno. No prefácio, a curta mas intensíssima biografia leva-nos a ler o pequeno livro todo de seguida e a querer ter conhecido a madura rapariga, que começou a escrever poesia aos 14 anos, e o seu círculo de professores e amigos, num meio italiano intelectualíssimo e vibrante.

Hoje é também o segundo dia de uma nova estação do ano, por isso fica Morte de uma estação, de Antonia Pozzi:

Choveu toda a noite

sobre as memórias do verão.


Ao anoitecer saímos

no meio de um ribombar lúgubre de pedras,

imóveis na margem segurando lanternas

para explorar o perigo das pontes.


Ao amanhecer vimos as pálidas andorinhas

ensopadas e pousadas sobre os fios

espreitando os sinais misteriosos da partida -


e reflectiam-nas na terra

as fontes de rosto desfeito.


Morte de uma estação, Antonia Pozzi, selecção e tradução de Inês Dias, ed. Averno, 17€